Espero, com todo o meu coração, que estejam
todos e todas bem e que essa pandemia logo passe e a gente possa voltar a se
encontrar.
Enquanto isso não acontece,
preparei uma atividade para ajudar vocês a ocuparem seu tempo e conhecerem
outra situação, difícil como esta, que a humanidade já superou.
Fiquem bem e se isolem o
máximo possível. Lembrem-se, a única forma de se proteger dessa doença é o
isolamento. Não existe remédio, nem vacina.
Beijos,
Marcela. (Marcela
Goldmacher Matsushima, Professora de História da Escola Municipal Barão de
Itacurussá)
Leiam o texto abaixo, do jornal
Estadão, e respondam as perguntas no final do texto. As perguntas podem ser
respondidas à mão, numa folha de caderno, ou da melhor forma para vocês.
66 dias de terror e morte na luta
de SP contra a gripe espanhola
Veja semelhanças entre atual
epidemia da Covid-19 e da doença que marcou o início do século 20
Liz Batista - Acervo
Estadão *O texto foi levemente modificado para
facilitar o entendimento
Charge da Gazeta de Notícias mostra a chegada
da gripe espanhola ao Brasil, 29/9/1918.
A epidemia de gripe
espanhola, a mais mortal da história contemporânea, com cerca de 50 milhões de
mortes estimadas em todo o mundo, atingiu a cidade de São Paulo no início de
outubro de 1918. Diante do rápido avanço da doença o Serviço Sanitário Estadual
de São Paulo, na figura de seu diretor Arthur Neiva, decretou estado epidêmico
em 15 de outubro de 1918. O que possibilitou, entre outras medidas, a suspensão
das aulas nas escolas e o fechamento de estabelecimentos comerciais e de
entretenimento. O estado de emergência foi levantado em 19 de dezembro daquele
ano, quando o registro de mortos passou a indicar uma queda significativa. Na
conta oficial da cidade 5.331 pessoas morreram da gripe. Foram 66 dias de medo
e morte, como lembra o jornalista e escritor Roberto Pompeu de Toledo na obra A
Capital da Vertigem (2015). A história dos dias em que São Paulo
foi tomada pelo mal estão preservados nas páginas do Acervo Estadão.
A partir dos registros do período é possível apontar
semelhanças entre a pandemia de gripe em 1918 e atual pandemia de Covid-19.
Como os métodos de prevenção e contenção como o isolamento social
e atenção à higiêne e as ações de solidariedade em meio à crise.
Mas, enquanto a história da epidemia de 1918 pode ser circunscrita à cerca de
dois meses na cidade de São Paulo, a da epidemia atual ainda tem seu fim
incerto. Na quinta-feira, 21 de maio, 66 dias após o 1º
óbito por Covid-19 ter sido registrado no
País, o Brasil bateu um novo recorde de 1.188 mortes em um dia pela doença.
A gripe
espanhola em SP.
Os primeiros registros da gripe espanhola datam do início de
1918, em agosto a doença já havia se alastrado pelo mundo. Em setembro daquele
ano chegou à capital do Brasil. Pela imprensa, os paulistas liam com receio as
notícias alarmantes que chegavam do Rio de Janeiro sobre a evolução da
epidemia. No entanto, a moléstia em sua forma mais grave parecia ainda não ter
atingido São Paulo. Os relatos tratavam da manifestação da “grippe
hespanhola” ou “influenza hespanhola” em
sua “forma benigna”, os hospitais da cidade
contavam convalescentes e não mortos. Mas no prazo de poucos dias, o cenário
mudou e os paulistas conheceram a força avassaladora da doença. Em novembro de
1918, SP já realizava contagem diária de mortos e infectados pela gripe.
No noticiário as informações iam da identificação dos
primeiros casos, passando pelas medidas adotadas contra o avanço da epidemia,
as ações beneméritas para ampliar e adaptar a rede de hospitais que contava
principalmente com a Santa Casa de Misericórdia e com o então Hospital de Isolamento, hoje Instituto Emílio
Ribas. Da mudança no dia a dia da população ao luto que se abateu sobre a cidade, com contínuos cortejos
fúnebres e coleta de corpos. Da rápida demanda de expansão dos serviços
funerários à construção de novos cemitérios e valas comuns para
comportar os mortos e a instalação de iluminação nos já existentes para que
enterros pudessem ser feitos durante todo o dia e toda a noite.
Diferente da epidemia provocada pelo novo coronavírus,
que teve o primeiro caso
registrado em São Paulo, fato que soou o
alerta para a chegada da epidemia no Brasil, a gripe espanhola chegou ao País
pelo Rio de Janeiro e levou cerca de cinco dias até se instalar em São Paulo.
Por isso, nesse meio tempo, muitos paulistanos nutriram a esperança de que
talvez a gripe pudesse poupar a cidade.
Levando em conta a escassez de informações sobre a
doença, fato agravado pela censura de guerra que vigorou durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918); a ausência
de organizações médicas internacionais que informassem sobre as
características, comportamento e forma de contaminação da doença, a demora na
execução de medidas de combate à gripe foram, em certa medida, um produto do
seu tempo e condições históricas. Em 1918, teorias científicas ainda disputavam
sobre a natureza do organismo causador da "influenza
hespanhola". Enquanto alguns cientistas afirmavam que se
tratava de uma bactéria, outros defendiam que era um vírus, dividindo opiniões
sobre a forma de controle da epidemia.
A luta
contra a pandemia
Nesse contexto, muitos dos cuidados aplicados no combate a
outras doenças acabaram por ser as “armas” utilizadas contra a epidemia em
curso. O isolamento social, por exemplo, revelou-se essencial para reduzir o
ritmo da contaminação. Assim, medidas como o fechamento de escolas, teatros, cinemas,
bares e a suspensão de campeonatos esportivos foram as primeiras ações a serem
colocadas em prática. Autoridades também propuseram reorganizar datas de
feriados para ajudar no esforço de manter a população em casa e o comércio
fechado.
O "Theatro Municipal" fechou as portas em 24 de outubro de 1918, após a soprano da temporada cair doente. O Campeonato Paulista
de Futebol foi suspenso. Fora dos campos, os clubes voltaram-se contra um
adversário comum, a epidemia, e organizaram ações beneméritas para ajudar os
afetados pela gripe. O Clube de Regatas
do Tietê, assim como outras tradicionais associações
esportivas de São Paulo, transformou sua sede em um posto médico de
atendimento.
O "Club Athletico Paulistano" adaptou instalações para comportar leitos para os doentes da gripe espanhola, São Paulo, SP, 1918.
Na esfera político administrativa, medidas foram tomadas
para garantir o abastecimento da cidade, créditos foram abertos e orçamentos
foram emergencialmente alterados para enfrentar a situação. O Estadão, mesmo afetado pela falta
de pessoal afastado por conta da doença, conseguiu manter um boletim informativo sobre o curso da
epidemia. Nesse noticiário constam outras medidas dignas de menção, entre elas
os cuidados com a desinfecção dos bondes; a adaptação de prédios para
instalação de leitos para os doentes - para citar um exemplo, as dependências
do Mosteiro São Bento, no centro de São Paulo, foram transformadas para funcionar
como um hospital.
Foi feita uma campanha pedindo aos comerciantes e
industriais que reduzissem as horas de trabalho e mantivessem funcionários
doentes afastados do serviço, até o restabelecimento de sua saúde, sem
demissões. O estabelecimento de canais para a difusão das medidas de prevenção
indicadas pelos serviços de Saúde nos jornais - como a publicação nos jornais
dos boletins do Serviço Sanitário e listas, divididas por região, dos hospitais e instituições que os convalescentes
deveriam procurar.
O fim do
flagelo e a carta do Prefeito de São Paulo, Washington Luís:
Com a desaceleração do contágio e a redução das mortes pela
gripe no começo de dezembro de 1918, o prefeito, Washington Luís, encaminhou a
prestação de contas dos esforços empregados contra a doença à Câmara Municipal.
Dias depois, foi decretado o final do estado de epidemia em São Paulo.
No documento, ele agradece a “indiscutível”
solidariedade de todos e confiança dos parlamentares na sua administração “durante
os calamitosos dias” em que a população de São Paulo foi “flagelada”
pela peste”.
O texto, assume um tom autoral de um combatente que
retorna da guerra e revela o espanto e o sentimento de impotência ante a fúria
devastadoras da epidemia. “Não conservam, os contemporâneos
memória de um flagelo igual; conta a História que, na Idade Média, confusa e
obscura, pestes assolaram a humanidade (...) Mas, parece que a previsão dos
homens, os progressos da Ciência, os ensaiamentos da higiene, tinham afastado
ou, pelo menos, reduzido essas terríveis consequências (…) A invasão insólita
da epidemia, a violência do seu ataque, a inutilização completa, se bem que
periódica da grande maioria da população vitimada, o coeficiente altíssimo da
mortalidade em toda a parte, nos climas quentes como nos frios, nas estações
hibernais como nas estivais, nas terras de sábias organizações como naquelas
mal aparelhadas, vieram, trazendo o pânico e deixando o luto e a desolação,
mostrar mais uma vez a contingência
das coisas humanas. Em toda a parte, a aparição virulenta foi brusca e a sua
disseminação fulminante. Nós como todas as grandes cidades, pagamos o
equivalente tributo ao inimigo insidioso.”
Perguntas:
1) Segundo o texto, qual foi a epidemia mais mortal do mundo
contemporâneo até este momento? E, em que ano ela aconteceu?
2) Pensando na forma de lidar com a doença, quais são as
semelhanças entre a pandemia de gripe de 1918 e a atual pandemia de Covid-19?
3) Quais forma as “armas” utilizadas tanto para conter a
pandemia de gripe em 1918, quanto a de Covid-19 em 2020?
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